28. Uma Ante-Antologia da Poesia Experimental Portuguesa.

Uma antologia deve ser apenas um esboço de amostragem de obras/ fazedores, com abertura para modificações: correções, acréscimos, cortes etc. Se já deveria ser deste modo em outros tempos, a tarefa hoje se simplifica, à medida que, com novos meios, novas linguagens, novos procedimentos – embora embasados em toda uma tradição – temos este tipo de publicação (digital): crescente e mutante. A maior das antologias, dentre as que examinei, não ultrapassou o 20º poeta. Isto significa que houve seleção, houve cortes – critérios foram postos em ação. Esta pretende ser geral, partindo do final dos 50, mas principalmente a partir dos 60, até à atualidade, porém, apenas considerando a produção impressa, se bem que muitas das peças podem transitar de um meio para o outro, sem perda da informação estética. A maior dificuldade foi justamente a relativa aos poetas e às poetas (não sei se em Portugal “poeta” se tornou comum-de-dois ou se os portugueses continuam a utilizar, para a fazedora, o feminino “poetisa”) que, atravessando décadas, desde o início da experimentação consciente, possuem obra volumosa e de grande qualidade – o que selecionar? Outras questões: a dos que não participaram de revistas pioneiras, mas acabaram por produzir textos afins, como Alexandre O’Neill, que comparece nas antologias, salvo erro, a partir de 1973, com a Antologia da Poesia Concreta em Portugal, ou dos que, como Herberto Helder, abandonaram as hostes experimentais, ou o dos artistas plásticos que tiveram e têm a escrita no centro de suas preocupações, como Emerenciano Rodrigues e Jorge dos Reis. Rui Torres, de uma 3ª geração, podemos assim dizer, tem foco principal nas novas mídias, porém, há um aspecto gráfico que pode, não sem perda de parte da informação estética, ir para o papel, que é o principal (não o único) suporte da poesia impressa: tipografia, offset, serigrafia, reprografia, carimbos e até auxílio a caligrafia gestual etc. Interessante é que, em alguns poetas, a parte verbal/verso/discursiva é muito mais volumosa que a propriamente experimental (com forte visualidade estrutural) que, tudo faz crer, obriga à prática da parcimônia. Os históricos, todos, já possuíam um percurso na poesia-verso, como disse em entrevista Melo e Castro, que também afirmou, em outra ocasião, que a poesia visual que produziu equivaleria a cerca de um quarto de toda a sua produção poética. Antologia escolhe peças e não autores, daí que o seu objetivo maior não é dar uma ideia da evolução de um poeta em particular, mas de todo o universo poético abordado. Uma antologia informa e cria expectativas para que o leitor-fruidor possa ir em busca de mais e mais informação. Embora contando com colaboradores (às vezes), os maiores promoters, divulgadores e organizadores de exposições e antologias são Melo e Castro e Fernando Aguiar – este último pertencente à 2ª geração de experimentais portugueses. Algumas peças tornaram-se verdadeiros “clássicos” da Poesia Experimental portuguesa e aqui comparecem inevitavelmente (não todas, porém). Que se tenha uma noção, tênue que seja, de como se desenvolveu a experimentação em Solo Lusitano.

*Fontes dos Poemas: sigla determinada e o nº de página ou de figura. Por uma questão que envolve direitos autorais etc. os poemas serão, por ora, apenas indicados, não reproduzidos.

ABVG: Alexandre O’Neill. Abandono vigiado. Lisboa: Guimarães Editores, 1960.

APEP60-80: Carlos Mendes de Sousa e Eunice Ribeiro (org.) Antologia da Poesia Experimental Portuguesa: anos 60-anos 80. Coimbra: Angelus Novus, 2004.

APCP: José-Alberto Marques e E. M. de Melo e Castro (org.) Antologia da Poesia Concreta em Portugal. Lisboa: Assírio & Alvim, 1973.

COEXVS: Fernando Aguiar e Gabriel Rui Silva (org.) Concreta. Experimental. Visual. Poesia Portuguesa 1959-1989. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1989.

10EMER: Pedro Barbosa et alii. Emerenciano: 10 Anos de Escripinturas: 1973/1983. Porto: Fundação C. Gulbenkian, 1983.

25PO: António Nelos. 25 Poemas Visuais. Lisboa: Vala Comum, 1993.

IDGR: E. M. de Melo e Castro. Ideogramas. Lisboa: Guimarães Editores, 1962.

PLGS: E. M. de Melo e Castro. Poligonia do Soneto. Lisboa: Guimarães Editores, 1963.

REILEI: Ana Hatherly. A Reinvenção da Leitura: breve ensaio crítico seguido de 19 textos visuais. Lisboa: Editorial Futura, 1975.

PEXPP90: Fernando Aguiar (org.) Poesia Experimental Portuguesa dels 90 (Antologia). Barcelona: RSalvoEdicions, 1994.

PO.EX: site po-ex.net

sip: sem indicação de página

fig: figura

sd: sem data

 

A Ante-Antologia – Poetas/Poemas (em ordem alfabética de prenome de autor):

>Abílio-José Santos (Maia 1926-1992)

.Sem título [d o o o], 1968. COEXVS: 18

.Humo, 1972. COEXVS: 19

.Sem título [Amor], 1992. PEXPP90: sip

>Alberto Pimenta (O Porto 1937-)

.Biografias, 1977. APEP60-80: 168-171

.BLACK & WHITE, 1977. COEXVS: 21

.Intervenção no dia do turista, Lisboa, 1991. PEXPP90: sip

>Alexandre O’Neill (Lisboa 1924-1986)

.Tenho o colo de cisne e o corpo de hipocampo, 1960. ABVG: 26

.Quem nos dera bem juntos…, 1960. ABVG: 31

.Uma alegria de vírgulas em fuga…, 1960. ABVG: 39

>Almeida e Sousa (…)

.Sem título [poema], 1991. PEXPP90: sip

>Álvaro Neto [Liberto Cruz] (Sintra 1935-)

.Demonstrativando, 1966. APEP60-80: 82

.Despossuindo, 1966. APEP60-80: 84

.Grelha vocálica, anos ‘60. APCP: 96

>Ana Hatherly (O Porto 1929-Lisboa 2015)

.1º Poema Concreto, 1959. COEXVS: 10

.1 – MAIS IMPORTANTE E LIVRE, 1975. REILEI: sip

.3 – OS AS, 1975. REILEI: sip

.19 – LE PLAISIR DU TEXTE, 1975. REILEI: sip

.Sem título, 1984. APEP60-80: 247

>Antero de Alda (Sever do Vouga 1961-)

.Poema do guarda-chuva fechado, 1984. APEP60-80: 251

>António Aragão (São Vicente/Madeira 1921- Funchal 2008)

.Poema encontrado, 1964. COEXVS: 14

.Istória VEM, anos ‘60. APCP: 49 (encarte)

.Antes de vós, anos ’60. COEXVS: 15

.SOS-CÉU, 1987. COEXVS: 50

>António Barros (Funchal 1953-)

.TrAdição/Traição, 1979. COEXVS: 24

.Escravos, 1979. APEP60-80: 195

.Estudo dum texto visual, 1985. APEP60-80: 265

>António Dantas (1954-)

.ta-ta-ta, 1986. APEP60-80: 271

>António Nelos (Ilha da Madeira 1949-)

.SUB VER SÃO, anos ‘80. 25PO: sip

.DE VO TA, anos ‘80. 25PO: sip

.PRI MATA, anos ‘80. 25PO: sip

>Armando Macatrão (1957-)

.Soneto do nada ubíquo, 1987. COEXVS: 52

.Soneto atómico, 1990. PEXPP90: sip

>César Figueiredo (O Porto 1954-)

.Solar III, sd. COEXVS: 55

>Emerenciano Rodrigues (Ovar 1946-)

.Escripintura, anos ‘70. 10EMER: fig 3

.Escripintura, anos ‘70. 10EMER: fig 4

.Escripintura, 1985. COEXVS: 40

>Ernesto Manuel de Melo e Castro (Covilhã 1932-)

.Tontura, 1962. IDGR: sip

.Soneto Soma 14 X, 1963. PLGS: 38

.Geografia Humana, 1962. IDGR: sip

.Sintagramas 7, 8, 9, 10, 1967. APCP: 69

.Transformação-2, 1993. PEXPP90: sip (sequência de 3 páginas)

>Fernando Aguiar (Lisboa 1956-)

.(c)entro, 1978. APEP60-80: 208

.País de poetas, 1986. COEXVS: 42

.Murmúrios acerca de um soneto, 1986. COEXVS: 43

.Soneto progressivo-regressivo, 1990. PEXPP90: sip

>Gabriel Rui Silva (Almada 1956-)

.Sem título [Camara Municipal/informações], 1991. PEXPP90: sip

>Herberto Helder (Funchal 1930-Cascais 2015)

.Sem título, anos ’60. APCP: 70

>Jorge dos Reis (Unhais da Serra 1971-)

.Alfabeta [releitura], 2011. PO.EX

>José-Alberto Marques (Torres Novas 1939-)

.Sem título [o pó], 1967. APEP60-80: 133

.Textura 1, anos ‘60. APCP: 83

.Homeóstato-1, 1967. COEXVS: 22

.Geopoema, 1984. COEXVS: 39

.Ex-critas, 1985. APEP60-80: 326-7-8

>Manuel Portela (…)

.Fractal, 1991. PEXPP90: sip

>Rui Torres (O Porto 1973-)

.PoemAds – Sob o signo da devoração, 2012. PO.EX

>Salette Tavares (Lourenço Marques-Maputo/Moçambique 1922-1994)

.Falo, anos ’60. APCP: 102

.Os efes, anos ’60. APCP: 104

.Kinetofonia – TAKiTAKi, anos ’60. APCP: 105

.Kinetofonia – Ri m riri, anos ’60. APCP: 106

.Ironia sobre o computador, anos’60. APCP: 111 (encarte)

>Silvestre Pestana (Funchal 1949-)

.Atómico Acto (Construir o Poema), 1969. APEP60-80: 150

.Telegrafias, 1969. APEP60-80: 148

.Computer Poetry to Juian Beck, 1985. APEP60-80: 338

Creio que, em pouco tempo, já estarei a executar modificações, provavelmente acréscimos e trocas, pois, por mais que tenha tentado uma certa objetividade nas escolhas, norteadas mormente pela dimensão do qualitativo, há a irremediável questão idiossincrásica, mas sempre esperando ter feito o melhor possível, na base do “por enquanto”. XAIPE!

Omar Khouri . Lisboa . 2016 . Bolsista PDE pelo CNPq junto à Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa . Supervisor: Prof. Dr. João Paulo Queiroz

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