O objetivo de entrevistar poetas experimentais portugueses era o de obter conhecimento mais efetivo, com os vivos, de seu trabalho artístico, elucidando aspectos que me seriam importantes para a pesquisa que estava destinado a fazer, em verdade, a proposta de pesquisa do Pós-Doutorado, a desenvolver na capital lusa, exatamente sobre visualidade contemporânea na Poesia portuguesa e suas relações com o que havia se desenvolvido e o que estava a se desenvolver no Brasil. Por pouco não cheguei a ter contato pessoal com a poeta Ana Hatherly: poderia ter sido em abril daquele ano de 2015, quando participava de Congresso (CSO) na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa – cheguei a fazer contato com o poeta Fernando Aguiar, que a assistia e que me expôs a impossibilidade de vê-la naquele momento. No mesmo ano, havia morrido Herberto Helder (em 23 de março), um pioneiro que abjurou o experimentalismo poético. Outros, como Salette Tavares e Antônio Aragão já haviam morrido há mais tempo. Cheguei em Lisboa, para o Pós-Doc, em 2 de agosto de 2015; Ana Hatherly faleceu no dia 5. Interessante é que, por meio de Fernando Aguiar, ela já havia nos enviado poemas para a publicação em Artéria 11, que somente foi lançada no 1º semestre de 2016. Ernesto Manuel de Melo e Castro residia em São Paulo e tive contato com ele em algumas ocasiões e a chance de inquiri-lo várias vezes por e-mail. Estando na Terra Lusitana, pude enviar o questionário a alguns poetas, consultando-os antes. Dos que receberam as perguntas, nem todos me enviaram as respostas aguardadas. De qualquer modo, pude consultar outras inúmeras fontes e os textos foram produzidos e imediatamente postados no Blog “Escritos de Lisboa”. A médio prazo, minha pesquisa deu ensejo à grande exposição “Poesia Experimental Portuguesa”, na Caixa Cultural, em Brasília, outubro-dezembro de 2018, produzida pelo Espaço Líquido e em que dividi a curadoria com Bruna Callegari, que esteve em Portugal por duas vezes, ocasiões em que pôde recolher um material precioso, que veio a constar da mostra. Esta foi considerada por Melo e Castro a mais bela de quantas coletivas houve do Experimentalismo poético português, tendo sido a maior das acontecidas fora de Portugal e mereceu um catálogo portentoso, com valor de antologia.
Questionários enviados . setembro de 2015 (endereços/e-mails, em boa parte fornecidos por Fernando Aguiar): A António Barros, António Nelos, César Figueiredo, E. M. de Melo e Castro (Houve uma extensa troca de e-mails com o poeta, residente em São Paulo), Emerenciano Rodrigues, Fernando Aguiar, Jorge dos Reis, José-Alberto Marques (enviadas as perguntas por carta, a qual retornou ao Remetente, pois o endereço estava incompleto: residindo em Abrantes, J-A. Marques havia informado a Fernando Aguiar, que não seriam necessárias informações além de nome do Destinatário e cidade, pois que o carteiro o conhecia e lhe entregaria correspondências), Manuel Portela, Rui Torres, Silvestre Pestana.
Os que voltaram respondidos: De António Nelos (António Jorge Vasconcelos), António Barros, Emerenciano Rodrigues, Fernando Aguiar, Melo e Castro e Rui Torres.
Dos brasileiros, Augusto de Campos foi solicitado para alguns esclarecimentos, por e-mail, atendendo a todos os apelos do pesquisador.
- Em que ano e em que cidade nasceu? Onde reside? Já residiu em outro país? Se sim, a propósito de quê? Em que área se deu a sua formação?
- Quando começou a praticar a sua arte? Que relação teve ou tem com o verso (a poesia em versos)? Produziu-os e publicou-os?
- Que poetas foram importantes em sua formação? O mesmo com relação a artistas plásticos, a músicos e a teóricos.
- Tem conhecimento da utilização de elementos visuais na poesia portuguesa de outrora?
- Qual pensa ter sido a principal influência sofrida pela poesia visual/experimental portuguesa contemporânea?
- Que tipo de relação se estabeleceu entre vocês, então jovens, e os poetas veteranos: Melo e Castro, Salette Tavares e Ana Hatherly, por exemplo?
- De quando são suas primeiras incursões no universo da Poesia Visual? E suas primeiras publicações?
- Já participou de antologias e de mostras de poesia em Portugal? E fora?
- Que poemas de sua produção colocaria numa antologia impressa ou numa exposição? Destaque, pelo menos três.
- Tem conhecimento de poetas de outros países que praticam uma poesia visual?
- Em sua poesia, tem feito uso de novas tecnologias/novas linguagens? Como prefere chamar a poesia que pratica?
- Tem feito uso da cor? Que importância possui a cor em sua poesia impressa? Em termos gerais, os custos impediram a utilização da cor (em poemas), nos anos 70 e 80?
- Como a sua produção poética tem sido recebida em Portugal e noutros países?
- Interessou-se por crítica, ou melhor, pelo exercício crítico?
- Interessou-se pela tradução de textos poéticos?
- Tem (mantém) contato com poetas brasileiros? Tem conhecimento da poesia experimental mais recente produzida no Brasil?
- A Poesia Concreta brasileira teve algum papel em sua formação de poeta visual?
- Teve contacto (amizade) com os poetas “históricos” da visualidade, em Portugal?
- Como é que sua produção tem sido veiculada? Há dificuldade para a veiculação de poesia visual/experimental em Portugal?
- Observaram-se em Portugal – ou ainda se observam – reações (negativas) com relação à Poesia que valoriza elementos da visualidade?
.2º semestre 2015
As respostas me foram muito úteis para a elaboração de meus 33 textos publicados neste Blog e, de lá para cá, com a minha interferência, muitos contatos envolvendo interesses poéticos têm sido feitos entre brasileiros e portugueses, e espero que a exposição da PO.EX (Poesia Experimental Portuguesa) venha a acontecer em São Paulo.