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HUMANOS SERES
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AUGUSTO DE CAMPOS: UM POETA PARA MUITOS SÉCULOS

         

            Conheci pessoalmente Augusto de Campos no ano de 1974 (era o mês de novembro). Foi a propósito do meu livro de poemas Jogos e Fazimentos, que lhe havia entrege pouco antes mas, principalmente devido à grande vontade de conhecer o autor de poemas que eu admirava sobremaneira. Tendo entregue o livrinho, fui ter com ele algumas semanas depois e o poeta foi direto no que havia de melhor naquela obra imatura e fez comentários precisos. Deu-me inúmeros trabalhos (edições de autor) dele e de outros poetas, mostrando - de cara - o grande divulgador que era e é das coisas novas. Num dado momento me falou das dificuldades do caminho que eu havia escolhido, pois, se fazer poesia já não era fácil, aquela pela qual eu havia optado e que envolvia experimentação, era mais difícil ainda. Na saída, como era noite e chovia, acompanou-me com guarda-chuva à rua, até que eu pudesse pegar um táxi. De lá em diante, tornamo-nos amigos e ele, assim como seu irmão Haroldo de Campos (se os Andrades do Modernismo sequer eram parentes, os Campos do Concretismo são irmãos, ambos geniais) e Décio Pignatari sempre colaboram com as publicações coletivas da NOMUQUE, editora que fundei com Paulo Miranda, naquele mesmo ano de 1974, e que sempre funcionou à margem do sistema editorial brasileiro.
            Já me referi, nesta coluna, ao fato de que toda época é rica, dependendo do lugar onde nos colocamos, com relação aos acontecimentos. Pois é: em minha época de juventude, em São Paulo (e nunca deixei de estar - no mínimo mensalmente - em Pirajuí) pude conviver e ter, portanto, como interlocutores, alguns dos maiores poetas do século XX, donde destaco, agora, Augusto de Campos. E é apropósito dos 70 anos que o poeta completa: nasceu, AC, em São Paulo, em 14 de fevereiro de 1931. Data comemorável por tudo de EXTRAORDINÁRIO que ele fez e tem feito.
            Preocupado com inventar, Augusto de Campos foi co-fundador da Poesia Concreta, movimento que nasceu no Brasil e na Alemanha, espalhando-se pelo mundo. Em 1953, o poeta já elaborara a série POETAMENOS, poemas onde a utilização da cor entrava como elemento de ordem estrutural, o que bastaria para lhe garantir um lugar entre os poetas-inventores do século XX. Mas não parou por aí, continuou produzindo poemas que formaram um corpus fundamental, indispensável em termos de Planeta Terra. Foi co-fundador e colaborador das célebres revistas NOIGANDRES e INVENÇÃO, portavozes da Poesia Concreta no Brasil. Como teórico/crítico, exerceu desde cedo uma metalinguagem mais do que conseqüente: iluminadora, assinando, entre outros, o importante  e coletivo Plano-Piloto para Poesia Concreta, de 1958. Quando escreve sobre Poesia e Música - uma de suas paixões -  é aquela maravilha de texto, texto de quem, além de saber o que está dizendo, faz a coisa com o máximo de prazer. O tradutor de poesia Augusto de Campos mereceria ser abordado com a maior atenção e o será oportunamente. AC já foi considerado o maior tradutor de poesia para o Português, de todos os tempos. Sendo grande poeta e encarando a tarefa impossível da tradução como uma categoria da criação, ele tem recriado, desde os anos 50 do século que passou (!): Mallarmé, Dante, Cummings, Donne, Arnaut Daniel, Rilke, Hopkins, Maiakóvski, Rimbaud e tantos outros.
            Grande divulgador da poesia mais avançada e o melhor interlocutor que um outro poeta possa ter, Augusto de Campos sempre primou pela generosidade. Quando habitava, com sua bela, atenciosa e sensível esposa Lygia Azeredo Campos (irmã do poeta Ronaldo Azeredo) o apartamento 63, do número 23 da Rua Bocaina, nas Perdizes, em São Paulo, eram constantes as reuniões que promovia com os amigos poetas onde a conversa rolava por horas sempre agradável e proveitosa, com almoços e jantares memoráveis.
            Nesses seus setenta anos, Augusto de Campos produziu uma obra que só honra o Brasil e a Humanidade. Adentra o novo século/milênio a todo vapor, pesquisando as mais avançadas tecnologias, colocando-as a serviço do seu ofício de poeta . Poeta maior, eu diria. God bless the Poet! OMAR KHOURI

 


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