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DISCERNIR?
nomuque.net

DISCERNIR tem por objetivo trazer uma metalinguagem, a um só tempo simples e rigorosa, tendo em mente o esclarecimento para um púbico de iniciantes e não-iniciados, mas curiosos, curiosidade que conduz ao conhecimento. Daí, o caráter didático do que aqui comparece: abordagens desenvolvidas com interesse, apreço pelo objeto da metalinguagem e com rigor, o qual se atesta desde as escolhas feitas, até qualquer juízo que venha a ser emitido, passando pelo tratamento cuidadoso das matérias. O sítio se apresenta como um corredor cheio de portas, sendo que cada uma delas se abrirá para um campo ou assunto que tenham em comum as questões relacionadas às linguagens, mormente quando estas sejam portadoras de informação estética, com vistas ao Admirável. Textos e imagens virão acompanhados dos respectivos créditos. Contatos poderão ser efetuados pelo seguinte endereço: omarckhouri@gmail.com. Críticas e colaborações são esperadas. Omar Khouri

 

PRÓLOGO-Manifesto

DISCERNIR foi pensado como um site contendo fundamentalmente crítica de arte, e desde 1999, motivado pela disciplina que ministrada no IA-UNESP: TEORIA E CRÍTICA DA ARTE e tinha tudo a ver com a elaboração de seleções rigorosas do universo das Artes Visuais. Do ver ao ouvir foi um passo, era só relacionar a disciplina supra citada com outra: Poética e Criação de Textos. Daí é que foi preparado o seguinte texto-manifesto para abertura do site:

 

Crítica, etimologicamente, tem a ver com discernimento; da mesma raiz vem critério e crítico (aquele que julga).

§

Crítica é metalinguagem, ou seja, linguagem tendo como assunto linguagem.

§

Crítica - comparação: o que é o quê? Acréscimos à tradição? Reiteração de qualidade? Barateamento repertorial? Como saber? Comparando.

§

Tipos de crítica: Pound aponta vários, da apreciação esclarecedora que até acrescenta algo à obra, até aquela que consiste na "visita" a um estilo de época.

§

Abordagem histórica também deve ser crítica, já que envolve escolhas-julgamentos. Do mesmo modo a crítica deve estar informada da história, da evolução de formas para que tenha alguma consistência.

§

Papel principal da crítica: aproximar obra-destinatário.

§

O crítico e suas escolhas: Pound. A escolha avalia o crítico.

§

Crítica e lobby: comprometimento com o mercado. Política das Artes envolvendo mercado e os próprios artistas. Este caminho é desprezível.

§

O medo de errar. Fala-se bem de tudo, na esperança de um acertozinho. Não se deprecia nada, com medo do erro brutal. Os erros históricos aterrorizam os críticos. Alguns, meramente críticos, juntam-se a todo um sistema e lutam para firmar no mercado alguns nomes que, de certa forma, atendem a exigências do próprio mercado, porém com vernizes de novidade. Esses não têm comprometimento com a Linguagem e/ou com a Humanidade, mas com os dividendos e o prestígio (entenda-se: força) que aquilo possa vir a lhes render.

§

Crítica: poetas, pintores, músicos. Leonardo da Vinci, Poe, Baudelaire, Valéry, Kandinsky, Oswald de Andrade, Borges, Décio Pignatari e tantos outros. Teoria e prática; manifestos: posicionamentos públicos de artistas/poetas em que se prescinde de algo para colocar outra coisa no lugar: há sempre uma proposta que tem de ser nova. De qualquer maneira isto se insere na política das Artes. Quando se faz uma escolha clara, refuga-se todo o resto, angaria-se público  simpatizante, compra-se legião de inimigos.

§

Tudo deve existir, porém: 1. não se é obrigado a consumi-lo. 2. deve-se julgar com base em critérios elaborados após exaustivo trabalho de comparação e eleição de parâmetros. 3. Iluminação: a crítica deve ser esclarecedora.

§

Crítico: coragem intelectual: mesmo lutando contra tudo e todos, defende seu ponto de vista, por considerá-lo correto.

§

Às vezes, autores sofríveis podem ter algo digno da atenção. Autores refugados por outros artistas e críticos podem estar escondendo obra importante. Assim como há autores geniais com alguns trabalhos ruins.

§

Pode-se negociar o objeto, não a Arte. Nada de negociação: o artista faz. Os fruidores, para ter o repertório não necessitam estar em posse das obras, que terão no Museu sua melhor morada.

§

Muitos dos pontos a serem observados pela crítica, podem servir para todas as Artes, da Pintura à Poesia, passando pela Música. No exercício metalingüístico, observam-se as peculiaridades.

§

Uma obra pode muito bem viver sem o crítico ou outro leitor qualquer que venha a lê-la, porém a obra pede para ser lida, ela quer ser interpretada, ela quer que sua interpretabilidade encontre inteligências que, desdobrando-a, deixem explícita a sua grandeza, o seu  engenho e arte, sem nunca esgotá-la, mas atendendo a necessidades metalingüísticas do momento. Um olho de agora, não será o mesmo de daqui a cem anos: leituras, leituras, leituras... Há obras que atravessam séculos e milênios sem que haja perda de interesse das sociedades por elas. Toda obra está em busca do leitor ideal. O leitor ideal é três vezes OSO: curioso, amoroso e rigoroso.

§

Há obras que estão no centro das cogitações, outras, são refugadas. Uma certa situação pode sofrer reversão. (Jakobson: a questão da poética sincrônica, desenvolvida por Haroldo de Campos).

§

O pouco, mas muito. Escolhas. Antologias. Museus. NON MULTA SED MULTUM. Ou Heráclito de Éfeso: um pra mim : miríades,
se vier a ser o melhor.

§

Cuidado com o crítico que venha a sugerir soluções para a sua arte: se ele as soubesse, faria ele-mesmo a sua (dele) obra. Se ele disser que seu trabalho não apresenta inovação alguma, se ele a classificar de difícil para o público leigo,  cuidado! O artista não tem de fazer nenhuma concessão, não deve fazer nada para facilitar, deve, com sua ambição artística, levar adiante o seu projeto de obra. Adequação repertorial quem tem de fazer e fazem são professores (sem demérito algum), jornalistas e publicitários. E já basta!

§

O bom crítico, ademais, é simplesmente a favor da(s) ARTE(S). E que vivam: Ezra Pound, Eliot, Edgar Poe, Baudelaire, Paul Valéry, Roman Jakobson, Jorge Luis Borges, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos!

São Paulo, setembro de 1999.


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