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HUMANOS SERES
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PAULO MIRANDA

             

            Imagine alguém que passe uma vida inteira tentando disfarçar que possui uma inteligência privilegiada, cultivada e, como conseqüência, um repertório raro, de um nível elevadíssimo. Imagine alguém que, por outro lado, não faça a mínima questão de se mostrar poeta, no mínimo muito bom e, quase sempre, excepcional. Pois é, esse alguém se chama Paulo José Ramos Miranda, nascido em Pirajuí, no ano de 1950, signo: Escorpião. Paulo Miranda, o Paulinho para aqueles que, aficionados da poesia,  conhecem-no e o reconhecem como um dos maiores fazedores, dentre aqueles que começaram a publicar - embora muito pouco - a partir de meados dos anos 70.
            Meu conhecimento de Paulo Miranda data de fins dos anos 50: ele declamando com uma desenvoltura espantosa nas festividades de escola, poemas de Gonçalves Dias, entre outros. Porém, amizade mesmo começou quando eu, atrasado nos estudos dadas algumas reprovações, encontrei-me com ele na então segunda série ginasial - era o ano de 1963. Um garoto prodígio no que diz respeito ao domínio do código verbal. Dizer que escrevia bem, era pouco. Seus professores sempre ficaram embasbacados frente aos trabalhos que apresentava: do Grupo Escolar Anexo ao IEDAP, passando pelo Ginásio e Clássico, até a Universidade. Passou duas vezes pela LETRAS da USP e uma pelo Jornalismo da FAAP, de 1969 à segunda metade dos anos 70; o fato de estar muito acima de qualquer média que se pudesse estabelecer, fazia com que alguns dos mestres chegassem a pôr em dúvida a autoria de seus textos. Não os amigos, que sabiam que um simples bilhete seu dava gosto ler, tinha sempre algo de inventivo.
            Bem, Paulo Miranda fez questão de não obter nenhum diploma universitário. Foi cada vez mais elevando o seu repertório específico acerca da Poesia, principalmente a expressa em Português e Inglês, língua que ele aperfeiçoou com a estada de um ano nos EUA, inúmeras passagens curtas por Londres e Nova York e muita leitura: de Shakespeare a Ezra Pound.
            Desde muito cedo começou na Arte da Poesia, escrevendo versos (um poeta se faz lendo/ouvindo outros poetas) o que culminou com um prêmio importante em 1968, ano em que fixou residência em São Paulo e em que começou a trabalhar como aeroviário. Seu domínio técnico e sensibilidade fazem com que até hoje possamos ler os versos daquele adolescente, com bastante interesse.
            A seguir, houve um período em que cada vez produzia menos, até que cessou por completo a produção. Quando voltou a produzir, já operava dentro de um universo intersemiótico, ou seja, fundindo o verbal com outros códigos. Porém, passou a fazer pouquíssimos poemas: menos de vinte em um quarto de século! Conhecimento da tradição, senso crítico, sensibilidade à flor da pele, fina ironia e humor possibilitaram poemas como o reviravolta, o soneto-fita-métrica, o poema de valor, a crônica da passagem do ano etc. É de se notar que poucas pessoas - leitores privilegiados - têm tido acesso a essas faturas admiráveis.
            "A Poesia viveria muito bem sem nós", disse-me certa vez Paulo Miranda, para detonar qualquer pretensão minha e dele mesmo quanto à realização de uma obra de invenção, como pregavam os nossos amigos poetas concretos. Tendo horror ao gênero vida de artista, Miranda vai liberando o seu finíssimo humor e ironia e fazendo cada vez menos ou, simplesmente, nada produzindo… OMAR KHOURI

 


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