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HUMANOS SERES
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REGINA SILVEIRA

             

         Ontem - 18-01-2002 - estive na famosa Speranza, incrível pizzaria de São Paulo, Bairro da Bela Vista (o Bixiga), comemorando o aniversário de Regina Silveira (nascida em Porto Alegre, no Ano da Graça de 1939). Presentes os amigos, entre os quais Gerty Sarué - uma grande artista gráfica - Guto Lacaz, Nelson Leirner - cada vez melhor, quanto mais velho fica - críticos, professores, poetas (Paulo Miranda, Walter Siveira e, mesmo, este que ora escreve), artistas jovens, de talento, pupilos de Regina e que por me parecerem um tanto arrogantes, irritam-me (um dias desses eles melhoram. Talvez espelhando-se no exemplo da artista Regina, espécie de mãe-de-todos e que é toda disciplina e empenho, norteados pelo talento e por um projeto de vida-arte, por um pensamento maior. Talvez que essa minha indisposição vá pelo que de mim reconheço neles e não suporto. Ou, quem sabe?, até ciúme, de minha parte).      
            Diferentemente dessas crianças dos anos oitenta (hoje não tão crianças assim, 'geração Basquiat') que contaram com todo um lobby de galeristas e críticos de arte, Regina teve um percurso de longo aprendizado, desde os tempos em que foi alunade escola de Belas Artes e aprendiz, em curso livre, do pintor Iberê Camargo, até a longa convivência com o raro artista Julio Plaza (de quem foi esposa por muitos anos). Viagens muitas, estudos, prática docente com muito empenho (daí o amor dos ex-alunos por ela) a devoção à gravura. Regina passou do figurativismo tradicional a um abstracionismo lírico-expressionista, chegando, numa curta fase, à abstração geométrica. Daí, uma longa pesquisa com imagens econtradas prontas nas mídias impressas e que eram retificadas, descontextualizadas e recotextualizadas. Crítica social profunda, transitando por um repertório que remetia à Pop Art. Metalinguagem: a arte abordada na arte. Interferências em imagens cristalizadas que se tornavam novas pelo que de estranhamento colocava nelas a artista.
            Com seu largo conhecimento da história da arte - de Altamira e Lascaux a Duchamp, Escher, Bacon e Rauschenberg - Regina passou a subverter os códigos ocidentais de representação: perspectiva e sombra. Daí, todo um trabalho que se desenvolveu durante anos, sempre evoluindo, e que, extrapolando o bi-, passou ao tridimensional: objetos, já não apenas recortados, nas em suas três dimensões. Um trabalho não-aurático: trabalho passível de ser reproduzido, sem perda da informação estética.
            Essa obra, há anos, extrapolou as fronteiras do Brasil: a artista ganha o mundo: de São Paulo a Nova Délhi, Toronto, Nova Ioreque e Rio de Janeiro.
            Regina Silveira tem um trabalho diferenciado, nesse mar de mesmice que se observa no meio erudito das artes plásticas, de algumas décadas para cá. Um trabalho que chama a atenção pelo engenho e ciência. Regina já possui o que poderíamos chamar de "uma obra". É uma mestra, em qualquer dos possíveis sentidos dessa palavra. Pensa e faz. Os trabalhos apresentados aos públicos resultam de inúmeros estudos que são - eles-mesmos - obras dignas de serem mostradas. Lembram os estudos de Leonardo da Vinci. Trazem a memória de toda a história da arte. Dialogam com muitos artistas, porém, esse diálogo rende quando é Marcel Duchamp o seu interlocutor, que embasa, é citado e homenageado com originalidade.
          Regina é uma incansável trabalhadora, uma trabalhadora compulsiva, uma workaholic, como se diz… Regina não encontrou nada de mão-beijada. Regina Silveira conquistou com arte o seu espaço. Salve Regina! OMAR KHOURI

 


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