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HISTORINHAS DE POETAS
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UM CERTO GRUPO DE POETAS DOS ANOS 70

 

            Às vezes, uma revolução está a acontecer em nossa frente e dela não nos apercebemos.Às vezes estamos na periferia dos acontecimentos, às vezes em seu centro e como participantes, até protagonistas. Nos anos 70, retomava-se uma certa atitude de experimentação na poesia brasileira, atitude essa tão cara a 22 e que teve o seu paroxismo com a Poesia Concreta. Eu descobri a poesia enquanto fazedor - pois como apreciador isso é anterior - nos ditos 70 e, além do grande amigo, o poeta Paulo Miranda, enturmei-me com criadores de Presidente Alves, rapazes muito bem informados e talentosos, como os irmãos Figueiredo (Valero) - Luiz Antônio, Carlos e Zéluiz - mais Renato e Roberto Ghiotto, Beto Xavier e outros tantos de São Paulo e doutras paragens. São Paulo já havia vivido grandes períodos de efervescência criativa na 2ª e 3ª décadas do século XX. Os anos 50 haviam sido o máximo, com as Bienais e o Concretismo. Nos 70, jovens poetas tinham como principais referências vivas os concretistas Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos e Ronaldo Azeredo e, procurando-os, tornaram-se amigos e interlocutores. Havia encontros semanalmente, no mínimo: nas Perdizes (Krystal Chopp), no Centro (Amigo Leo, Amaral Gurgel), em Moema etc. As conversas rolavam até altas horas e sempre produtivas, informativas - havia a chance da entrega de trabalhos: poemas editados autonomamente e que eram distribuídos de mão em mão. Revistas já eram feitas, na linha das revistas experimentais, como NOIGANDRES, INVENÇÃO, NAVILOUCA. Nós, então jovens, tínhamos a oportunidade de conviver com poetas e intelectuais que considerávamos os maiores do mundo. Das casas dos famosos, a sempre aberta aos jovens poetas, às discussões, era a de Augusto de Campos - Rua Bocaina, Perdizes - com sua esposa, a sensível Lygia, sempre presente e participativa. Dos mais jovens: a república onde eu morava, entre outros, com Paulo Miranda, todos de Pirajuí, a de Renato Ghiotto e, depois, o meu apartamento à Rua Dona Veridiana, onde moro até hoje e que, tendo montado uma mesa para impressão serigráfica, fizemos (uma equipe) belas edições de poemas, revistas, cartazes. Algo de muito interessante, mais do que a teoria que discorre sobre as relações entre Arte e Ciência e que ocupou parte das preocupações de Décio Pignatari, foi a convivência com aficionados da poesia e das artes em geral, mas que eram, em primeira instância, cientistas em formação, principalmente ligados à Física. Era o caso de Renato Ghiotto e Roland Azeredo Campos, que chegaram a produzir e ainda produzem belos poemas intersemióticos. Ivan Pérsio de Arruda Campos, químico, pouco participou desses papos, mas também chegou a mostrar o seu lado criativo (como Pérsio de Arruda) como poeta. Já disse certa vez que toda época é rica, principalmente depois que passa.. Nós, naquele momento, tínhamos plena consciência da importância de nossos interlocutores e de nossos trabalhos. Não tínhamos necessidade de manifestos. Nós éramos o nosso público!
OMAR KHOURI

 



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