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PAULO LEMINSKI

            

 

         Paulo Leminski [Curitiba (PR) 1944-1989], precocemente contava com um repertório, em termos de cultura geral, acima da média e muito cedo entrou em contato com a poesia e crítica mais avançadas que se faziam no Brasil, pois travou conhecimento com os poetas concretos (o encontro, anos '60, em MG). Publica poemas em INVENÇÃO 4 e 5 (1964-67), porém, foi nos anos '70 que realmente alçou vôo como poeta e como autor de uma prosa experimental, de fato admirável, do livro Catatau, que tem como ponto principal do argumento o transplante do filósofo René Descartes para o Brasil tropical holandês, à época de Maurício de Nassau. Prosa densa, posto que muito trabalhada, o Catatau  não teve até hoje muitos leitores, embora tenha sido feita uma segunda edição do livro. Porém, juntamente com algumas poucas obras, o Catatau, de Leminski se integra ao melhor conjunto de prosa que se fez no Brasil, depois de 1950.
            Leminski publicou livros de poemas (dizia-se que estava inflacionando a arte de João Cabral), nem sempre mantendo o nível de excelência que ele conseguiu firmar: uma dicção cada vez mais distante das conquistas dos amigos concretistas, uma redescoberta de um certo Modernismo, com Bandeira e Oswald de Andrade, de mistura com o haiku, do Japão, que tanto admirava. Aí, acabou tendo alguma afinidade com os poetas ditos marginais, mas muito superior a eles em qualidade, pois que era muito mais bem informado e com coragem artística. Aliás, dos poetas de linha construtiva mais verbais, ele foi o que realmente encontrou um caminho e um público. Sua poesia (engenhosa e sem hermetismos) e sua  metalinguagem (sem propriamente originalidade, trocando em claros miúdos complexidades de outrem) encontaram o público que o Catatau  não havia encontrado.
            Agitador cultural, publicou nas revistas, das marginais às não tão marginais e nas do Sistema e editou suplementos. Chegou a freqüentar a mídia; havia sido publicitário e esteve apaixonado pelo métier de letrista de música popular. O melhor Leminski poeta: aquele dos poemas os mais breves, verdadeiros tiros, golpes de ar e caratê. Em MUDA, recebeu dos editores um tratamento de grande poeta (era visto como a grande figura), opinião que nem sempre foi mantida depois.
            Nos anos '70, quando editava o PÓLO CULTURAL/  INVENTIVA, chegou a articular o que acabou sendo um esboço de movimento ou de grupo, encontrando afinidades que justificariam já uma poesia bem diferenciada das anteriores, ao que ele proclamou em artigo no PÓLO: o "X poetas & uma geração possível". Possível, mas inviável. Como o Tempo veio a mostrar pouco depois.
            MUDA e a ANTOLOGIA que foi organizada no PÓLO constituíram-se no coroamento de todo um processo: as coisas se tornaram claras: dentre os poetas que nos anos '70 mais se empenhavam com a experimentação, havia como que duas vertentes - uma mais ligada às coisas do verbo e outra mais envolvida com a fusão de códigos, mais, digamos assim, intersemiótica.
            Conheci Leminski pessoalmente nos anos 70 e cheguei a encontrá-lo algumas vezes, sempre em São Paulo (conheci, também, sua esposa, a poeta Alice Ruiz e, depois, suas lindas filhas: Áurea e Estrela). Houve uma espécie de empatia entre nós, que se traduzia em algumas gentilezas dele com relação a mim, como o envio de trabalhos, principalmente. Interesses outros impediram que tivéssemos laços de amizade mais estreitos, mesmo ele passando temporadas na capital paulista, onde eu residia e resido. Foi pena. Poderíamos ter trocado mais figurinhas. Penso que quem mais perdeu fui eu, mas, o que fazer diante do irremediável? Leminski se foi prematuramente por descuido próprio. Deixa uma obra que necessita de maior exame para que se chegue, de fato, a uma avaliação global da mesma. Fica - sem dúvida alguma - uma obra de grande importância para a Literatura Brasileira da segunda mentade do século XX. Curitiba, sem Leminski, parece erma e sem graça.

 

Em tempo. O livro de Toninho Vaz ( Paulo Leminski: o bandido que sabia latim. Rio de Janeiro, Record, 2001) - em muitos momentos, mal escrito, mas que, apesar das várias incorreções (como a de colocar Augusto de Campos como organizador da revista MUDA!) consolida o mito Paulo Leminski. Décio é visto pelo autor com nenhuma simpatia; chega a utilizar de maneira pejorativa o título de "professor": o professor Décio Pignatari… Décio é colocado como uma espécie de vilão, entidade repressora, cortadora de baratos. O biógrafo opta por traçar um percuso, mais de envolvimento de Leminski com vários tipos de droga, do que enfatizar grandezas e pequenezas literárias do moço das araucárias. O delicado assunto drogas acaba sendo viável com o objeto de estudo morto.  Não chega a tecer um juízo - tarefa do crítico - sobre a obra do artista da palavra Leminski. Apesar de tudo isso, a leitura não deixa de ser obrigatória para quem queira conhecer o autor do Catatau.

Pirajuí, 06 de junho de 2001. OMAR KHOURI

 

 


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