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ANTONIO LIZÁRRAGA: RIGOR E BUSCA

 

Conheci-o pessoalmente no estúdio-casa de Regina Siveira e Julio Plaza, há aproximadamente duas décadas, ocasião em que percebi seu incomum senso de humor, o qual se indiciava em toda e qualquer de suas observações, numa conversa que versava sobre generalidades. Nada daquela coisa do gênero 'vida de artista': uma pessoa como as outras, aparentemente. Antes, já tinha conhecimento de sua obra através da capa e programação visual do livro Panaroma do Finnegans Wake, trabalho feito em associação com Gerty Sarué, artista gráfica admirável como ele, o Lizárraga. Naquela empreitada dos Irmãos Campos a partir de Joyce (o Panaroma), as faturas gráficas de Gerty se integravam ao volume, rompendo com os limites impostos pela forma-livro e faziam do livro um livro-objeto: aqueles complexos sígnicos - da maneira como foram concebidos e programados - não ilustravam, mas falavam a linguagem experimental do texto verbal. Tive, outrossim, o privilégio de participar de uma que outra exposição de poéticas visuais onde Lizárraga também expunha a sua poética de linhas, fundamentalmente. No mais, passei a ter um conhecimento maior do seu trabalho em exposições pós-AVC: desenhos, pinturas, faturas tridimensionais. Vontade e rompimento de limites/limitações. Interessei-me cada vez mais por seu trabalho, procurando saber das condições da concepção, projeto e execução, em que entravam técnicos (quase sempre mulheres) sensíveis, que viabilizavam uma obra de um rigor cada vez mais notório. E notável, acrescentaria. Observando a obra de Lizárraga, de fins dos anos 50 até os dias de hoje, percebo o quanto já trazia algo construtivo que se foi acentuando, rigor sempre presente: os fenômenos linha, forma, cor, volume. Em seu não-figurativismo geométrico, apresenta grande afinidade com os pintores concretos que floresceram nos anos 50, porém, mesmo sendo daquela geração de artistas (Lizárraga nasceu em 1924), não chegou a compor com eles. Antes, possuía uma mesma filiação, pertencia a uma mesma linhagem: a da vertente mais radical que operou nas Artes Plásticas, no século que acabou de passar. Primado de uma sensibilidade inteligente. Parece que, quanto mais passa o tempo, o trabalho de Lizárraga fica mais consistente e digno de admiração. De uma estirpe rara e que valoriza a invenção no âmbito da linguagem. O terráqueo Antonio Lizárraga, argentino de nascimento, só faz honrar, com sua presença, as Artes no Brasil, país que escolheu para viver. São Paulo, junho de 2002.

 

 

 


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