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POESIA
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REVOLUÇÃO NA POESIA

             

            Toda uma revolução - das linguagens e das Artes - começou a se processar no século XIX, sendo que seu apogeu se deu neste século que está por terminar: revolução na Pintura, na Música, na Poesia - nada ficou fora das transformações radicais que se observaram numa época em que se verificou uma grande aceleração no próprio andamento das mudanças.
            Na Poesia, essa revolução representou mudanças estruturais que apontaram na direção da abolição do verso! Ou seja, apontaram para uma poesia que sobreviveria sem o verso, aquela unidade rítmico-formal do poema, de tradição milenar (a Pintura marchou em direção ao banimento do referente externo, chegando aos abstracionismos; a Música chegou ao atonalismo etc).
             Essa revolução foi, em verdade, um processo que se estendeu do século passado ao terceiro quartel do século presente. Foi do verso livre e do poema em prosa, passando pela experiência gráfico-poética de Mallarmé, cuja obra Um Lance de Dados... (1897) funda toda uma vertente: a mais conseqüente das poéticas do século XX. E, depois, adentrando os Modernismos, houve as experiências futuristas, dada, as de poetas como Cummings e de alguns outros. Do verso ao verso livre e, deste, ao não-verso, chegou-se à abolição desse modo de produção poética.
            Embora desde antes já se observasse a ausência de verso em Poesia, foi em 1958 que isto foi assumido, alto e bom som, pelos poetas concretistas de São Paulo: Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari: era publicado na revista NOIGANDRES 4 o Plano-Piloto para Poesia Concreta. Este, um dos mais importantes manifestos poéticos do século,  inicia-se assim: "poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas. dando por encerrado o ciclo histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural". Os poetas concretos assumiram teórica e praticamente o esgotamento do verso, fazendo poemas sem verso, não abdicando, porém, da utilização das palavras. E olha que antes da revolução concretista eles, muito jovens, tinham demonstrado que eram grandes verse makers.
            De fato mesmo, muito embora tenham sido feitas verdadeiras obras-primas de poemas sem a utilização da unidade verso, o "fazer versos" foi um know how que nunca perdemos. 1º Porque muita gente continuou a fazer versos como se faziam antes da eclosão dos Modernismos. 2º Grandes poetas, como João Cabral de Melo Neto, um dos maiores artistas da palavra deste século, em âmbito internacional, continuaram com seus versos raros e vivos; Cabral publicou seu maior livro em 1966: A Educação pela Pedra. 3º Os próprios concretistas, que dominavam a arte do versejar, como grandes tradutores de poesia de vários tempos, faziam seus versos em português (sempre encararam a tradução de poesia como uma categoria da criação. Como traduzir um poema em versos se não se sabe fazer versos?).
            Mas a revolução processada pelos Modernismos na Poesia deixaria marcas significativas. Hoje se fala em Pós-Modernidade e há aqueles que a encaram como uma época do vale-tudo em que até atitudes reacionárias, como voltar a uma poética pré-22 (para ficar apenas no Brasil) são aceitáveis. Reacionários como foram aqueles ledos e ivos poetas da Geração de 45.
            Muitos voltaram ao verso, desde, já, os anos 70, abandonando qualquer vestígio de experimentação. Assiste-se, de fato, de uns vinte e cinco anos para cá, a uma completa volta ao verso. Um verso apequenado, diga-se. Seria possível, hoje, fazerem-se grandes versos? Só vendo ... e ouvindo!

OMAR KHOURI

 

 


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