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HISTORINHAS DE POETAS
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A PROLIXIDADE DE XISTO

 

            Pedro Xisto Pereira de Carvalho (18??-19??) poeta pernambucano radicado em São Paulo possuía grande afinidade com a cultura japonesa, o que resultou na produção de centenas de haicais, alguns muito bonitos. Sua melhor produção teve a ver com sua descoberta das possibilidades gráficas que a poesia concreta oferecia e data dos anos 60 e teve repercussão internacional. Conheci Xisto em casa de Edgard Braga, que se tornara meu amigo e soube que se tratava do poeta Pedro Xisto, num momento em que ele, tendo falado incessantemente sobre a cultura japonesa - falava dos três alimentos sagrados no Japão: o arro, o peixe e o chá, mas ainda não havia saído do arroz! - pediu licença para ir ao banheiro. Disse-me Braga: Esse é o Xisto, grande pessoa e poeta, mas é um falador compulsivo e isto até faz com que os meninos das Perdizes se afastem dele (os meninos: Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos). Retomando a conversa, a explanação continuou e se mostrava interminável. Eu, tendo hora para tomar ônibus com destino a Pirajuí, desculpei-me e saí. A outra vez que vi Xisto (a última) foi no lançamento, no Centro Cultural São Paulo, do livro Desbragada, de E. Braga, ocasião em que houve uma grande exposição de poemas do velho Braga. Pedro Xisto era um erudito. Estimulado, seria capaz de falar horas sobre um assunto, o que se convertia em problema para os ouvintes, já que suas explanações eram intermináveis. Certa vez no Pós da PUC-SP, iniciou uma conferência às nove da manhã: todos muito satisfeitos com a sabedoria do poeta e crítico. Meio-dia. Meio-dia e meia, Uma da tarde. A fome foi vencendo a platéia que, pouco a pouco se retirou do recinto, o que deixou Xisto furioso e sem saber do porquê de tal atitude. De outra feita, recebeu em sua casa o casal Clüver, Claus, um professor e pesquisador alemão radicado nos Estados Unidos e que estava estudando a Poesia Concreta Brasileira; Maria, sua simpática esposa, que era brasileira. Sabia-se que havia um bolo na geladeira da cozinha que, em algum momento seria servido. Porém, a entrevista foi-se arrastando, arrastando por horas e nada do Xisto lembrar que os visitantes eram humanos e necessitavam de alimentos. Num dado momento, a doce Maria, desesperada, levantou-se e se dirigiu à geladeira onde a estava esperando o bolo mais desejado do mundo.
            Toda grande figura carrega consigo algo de folclórico. Esse é o folclore do Xisto que, e é isto o que conta, deixou alguns poemas de qualidade gráfico-semântica fora do comum (veja-se o livro de obra completa Caminho): patrimônios da Humanidade. OMAR KHOURI

 



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