apreciações críticas |
O IDIOMA DO POETA
Poderia um poeta ser excepcional em mais de um idioma? Não é o que a vida e a história nos tem mostrado. Um poeta está sempre ligado a um idioma e este é, via de regra, aquele da comunidade na qual ele nasceu e se criou. Um poeta se faz lendo/ouvindo outros poetas e, nisto, tem muita importância a leitura de textos originais, quero dizer, no idioma em que os poemas foram originalmente escritos. Daí que muitos poetas são por esse motivo ou por outro, versados em vários idiomas. Alguns até chegam a escrever também num segundo idioma, ou num terceiro, ocasionalmente. Temos notícias de escritores, poetas que escrevem num para, em seguida, escrever noutro, como que traduzindo a própria criação. Prevalece aquele com o qual tem muito maior familiaridade, aquele dentro do qual nasceu. O nosso - dos portugueses e do mundo - Fernando Pessoa possuía um grande domínio do idioma inglês, escreveu em inglês: poesia e prosa, teoria. Porém, no idioma de Shakespeare ele é apenas bom. Excepcional, Pessoa é na língua de Camões, que honrou como ninguém, lá em Portugal, depois do autor de "Amor é fogo que arde sem se ver". Foi uma opção mais do que consciente, de Pessoa, a língua portuguesa: "Minha pátria é a língua portuguesa", disse. E fez obra monumental. É que um poeta, para exercer em sua plenitude o seu ofício, tem de operar em um idioma, a partir do qual ele irá concentrar todo o seu poder de trabalhar a linguagem, criando, a partir de um léxico e de uma sintaxe conhecidos, um idioma novo: POESIA. Um poeta só é grande em um único idioma. A não ser que ele conte com a graça de tradutores recriadores, como foi o caso de Vladímir Maiakóvski, entre outros, que contou com o maravilhoso trabalho de recriação - tradução-arte - dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos, assistidos por Bóris Schnaidermann. Maiakóvski em português, não só se tornou legível, como pôde vir a ser considerado um poeta excepcional! OMAR KHOURI
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