apreciações críticas |
HERRMANN TRIPULANDO UM OVNI
Lá pelos idos dos 70, nas muitas reuniões que aconteciam em bares da Paulicéia - e o Chrystal, Perdizes, esquina da Cardoso de Almeida com a Dr. Homem de Mello - poetas e artistas plásticos se reuniam para trocas de idéias e desfrute do prazer da bebida. Jovens e veteranos conversavam e polêmicas sempre pintavam bastado que para isto estivessem presentes pessoas como Décio Pignatari (um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos) e Villari Herrmann (criador raro, autor de alguns dos mais belos poemas intersemióticos de quantos foram produzidos nos últimos trinta anos, no mundo!). Daí, polemizava-se pela polêmica. Um dos expedientes mais recorrentes era insultar Décio para que ele, numa investida genial, dissesse as verdades para quem tivesse desferido o golpe. Por exemplo: um pintor como Fiaminghi precisava saber a opinião de Décio sobre sua última produção e o Décio nada. Então, o jeito era atacá-lo para que ele disparasse suas setas mortíferas, porém, nem sempre. Havia sempre os maledicentes que, sob o pretexto da coragem e da verdade diziam coisas que até cheiravam a grosseria. Por exemplo: "Fulano entregou o ouro (está fazendo concessões, facilitando as coisas)", "Aqueloutro passou a falar o brasileirês, agora fará sucesso junto à oficialidade", ou "Nesses poemas ele faz concessões ao verbal" etc. Às vezes, eram meras provocações, de quem nada tinha a fazer, que não fosse instigar para ter o que falar. Numa dessas noites, no Krystal Chopp, Villari Herrmann, aproveitando a presença de Décio Pignatari, começou a sonhar acordado, falando de OVNIs, de passeios em naves com ETs etc. Décio, incrédulo e irônico, porém, sem baixar o tom e nem subir o volume lhe retrucou: "Pois é, você sai num passeio de nave extraterrestre e capta tantas informações para nós inimagináveis, que, na volta, também estará fazendo poemas jamais sonhados por qualquer terráqueo!" O mal-estar que se seguiu dispensa comentários. Não se falou mais em poesia naquela noite. OMAR KHOURI
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