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HISTORINHAS DE POETAS
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MANUEL BANDEIRA VERSUS OSWALD DE ANDRADE

 

            Manuel Bandeira (1886-1968) poeta essencialmente lírico, construiu uma solidíssima obra dentro do Modernismo do Brasil, tendo sido o introdutor do verso-livre entre nós. Sua obra pode ser considerada uma espécie de resumo da Lírica Ocidental. Uma coisa sempre irritou Bandeira: o fato de Oswald de Andrade se intrometer nos negócios de Poesia. Nunca admitiu, Bandeira, o Oswald poeta. Sempre acusado de ler pouco - injustamente, pois lia, muito embora não fosse um rato de biblioteca - Oswald sabia donde extrair as informações adequadas para as suas performances. Ou seja, era alguém bem informado. Quando OA laçou seu manifesto da poesia pau-brasil (1924), Bandeira escreveu um artigo detonando, dizendo, entre outras coisas que não suportava poesia de programa (ou seja, não assinaria um manifesto). Então, digam-me: o que seria o seu posterior "Poética", publicado no livro Libertinagem? No livro Apresentação da poesia brasileira, Bandeira desconsidera o Oswald poeta, chamando o seu trabalho de "versos de um romancista em férias"; por outro lado, exclui o autor de Pau-Brasil, da antologia que figura no final do volume, mas premia mediocridades. Mesquinhezas dos grandes. É bem provável que a briga de Mário com Oswald deva ter contribuído para piorar as coisas: Oswald era do tipo que arriscava perder o amigo, mas não a piada e tinha grande verve para a coisa. As paródias brilhantes do Romantismo também devem ter entrado para o agravamento da situação. De passagem, diria que a influência oswaldiana na poesia brasileira foi enorme (é claro que o grande poeta de 22 foi Mário, aliás seu livro Paulicéia desvairada, mas salvo um ou outro poema posterior, muito bom, a poética marioandradina se constituiu num grande equívoco, o maior do nosso Modernismo. Bandeira não chega a chamar o amigo Mário de grande poeta, mas, de grande artista), inclusive na obra do próprio Bandeira. Livros como Pau-Brasil e Primeiro Caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade continuam no centro das cogitações de quem faz poesia no Brasil, hoje. Bem, o outro Andrade, o Carlos Drummond, super-poeta do segundo momento modernista, em seu livro de estréia - Alguma poesia, 1930 - obra em que a influência oswaldiana é notória, dedica poemas a todo mundo, menos a Oswald … sintomaticamente… Em 1945, Oswald de Andrade reuniu sua produção poética e deu o título de POESIAS REUNIDAS OSWALD DE ANDRADE, dizem que parodiando as IRFM (Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo). Na comemoração dos 80 anos de Bandeira, em 1966, saiu o Estrela da vida inteira; POESIAS REUNIDAS. Dois grandes poetas, mais vivos que nunca no panorama da poesia brasileira, porém, o piadista Oswald, sempre desponta com mais força, dando o ar de sua graça. Bandeira é o introdutor do verso-livre no Brasil, porém, Oswald foi o autor dos primeiros  versos verdadeiramente modernistas entre nós, sem ranços virtuosísticos. Leiam a bela paisagem tarsiliana escrita por Oswald de Andrade:

longo da linha

Coqueiros
Aos dois
Aos três
Aos grupos
Altos
Baixos

OMAR KHOURI

 

 



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