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HISTÓRIA
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A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

 

            No Brasil, país integrado à Civilização Ocidental por obra dos portugueses, a Arte se desenvolveu como uma necessidade, não dependendo de qualquer planejamento ou boa vontade por parte dos colonizadores (o episódio holandês do século XVII escapa destas considerações). Como se diz: a Arte se desenvolve apesar de, ou, mesmo que à revelia.
            O Barroco, identificado como arte colonial, pois o seu desenvolvimento coincide - em termos de Artes Plásticas - com essa divisão da História Brasileira, cede lugar, a partir de inícios do século XIX, ao Neoclassicismo, que chega oficialmente ao País com a Missão Artística Francesa de 1816, encomendada pelo Príncipe Regente D. João (futuro D. João VI).
            Com algumas  insignificantes variações, o Academismo Neoclássico, incentivado principalmente pelo nosso segundo imperador, deu seus melhores frutos justamente  durante a segunda metade do século XIX e, com a República, adentra o século XX.
            Costuma-se apontar uma transição dessa arte acadêmica crepuscular para a Arte Moderna, no Brasil, colocando principalmente as obras de um Almeida Júnior e de um Eliseu Visconti - ambos pintores admiráveis, que já traziam algo de diferente: o primeiro, em termos de uma atmosfera mais naturalista e, portanto, menos próxima de um cenário teatral, tão caro à Academia; o segundo, por meio de um impressionismo tardio e não tão bem digerido.
            Em verdade, a Arte Moderna chega ao Brasil, aos tapas e pontapés, não com as exposições de Lasar Segall, de 1913, em São Paulo e Campinas (que certamente não mostrou o que havia produzido de mais radical na Europa, dentro do repertório expressionista) mas com a de Anita Malfatti, de 1917-18. Esta  exposição causou espanto e, se  por um lado trouxe problemas insanáveis à artista, por outro, serviu para despertar alguns jovens quanto à necessidade de se renovarem  as Artes no Brasil: Artes Plásticas, Poesia, Música.
            Naquela exposição realizada em São Paulo e que dera ensejo ao famoso artigo de Monteiro Lobato, desqualificando a Arte Moderna e a pintora, Anita Malfatti havia apresentado algumas das pinturas mais fortes de quantas foram realizadas até então por artistas brasileiros,   obras de sua "fase americana" (ela passara parte dos anos de 1915 e 1916 nos Estados Unidos, estudando pintura e desenho).
            Sintomaticamente, a exposição Malfatti se realizou em São Paulo, assim como foi a paulicéia o centro irradiador do Modernismo no Brasil. São Paulo era, à época, o centro urbano mais dinâmico do País, o lugar onde se observavam as maiores transformações e uma maior necessidade de fazer chegar às Artes as conquistas de um processo de modernização que vinha desde a segunda metade do século XIX e que muito tinha a ver com o café, a riqueza que ele trazia, com a imigração, com o enriquecimento de uma aristocracia que se formara ao longo dos séculos, o surgimento de um mercado interno, mesmo que incipiente, o despontar de uma burguesia. Ou seja, em nenhum outro lugar do Brasil se observava tanto dinamismo como na cidade de São Paulo.
            A Arte Moderna chegou ao Brasil com a chegada de tendências européias, como o Expressionismo, o Futurismo e o Cubismo (este último, principalmete a partir dos anos 20). Quem detonou o processo conhecido como Modernismo, no Brasil, foi Anita Malfatti, com a já mencionada exposição e, muito embora se detectassem sintomas de mudança em outras Artes, o nosso Modernismo teve início, mesmo, com as Artes Plásticas.
            Em torno de Anita Malfatti foram se reunindo pessoas que viriam - com o apoio de uma aristocracia endinheirada e inteligente (à qual pertencia Paulo Prado e outros) - promover, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a SEMANA DE ARTE MODERMA (a SEMANA DE 22, como é conhecida).
            A Semana constituiu-se num marco importante dentro do processo modernista brasileiro - foi o coroamento de uma fase, podemos até dizer. Constitui-se na demonstração de que as linguagens estavam mudando, no Brasil. A Semana de Arte Moderna contou com a participação de representantes das mais diversas áreas artísticas: alguns estiveram no Municipal, em pessoa, outros, com obras. Na seção de Artes Plásticas, a pintura de Anita Malfatti continuou a ser o que de melhor havia, mas participaram da mostra: Di Cavalcanti (um dos idealizadores da Semana, carioca residente à época em São Paulo, desenhista de humor e pintor, que teve, após o famoso evento, um maior desenvolvimento de sua carreira de artista), Vicente do Rego-Monteiro, Vítor Brecheret, John Graz, Yan de Almeida Prado (mais por troça que por crença) e outros. Das Letras, Mário e Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Manel Bandeira, Guilherme de Almeida, Graça Aranha e outros. Da música, o maior nome era o  do compositor e maestro Heitor Villa-Lobos.
            Há quem, como Yan de Almeida Prado, detrate a Semana: puro despeito e/ou incompreensão. A Semana de Arte Moderna teve importância fundamental no processo modernista, como arregimentadora de forças e divulgadora das já consumadas conquistas de linguagem.
            Após a Semana, saiu (maio de 1922) o primeiro número da primeira revista modernista do Brasil: KLAXON, editada em São Paulo, que foi seguida por outras em outras cidades brasileiras. Como revista porta-voz dos modernistas, KLAXON foi a mais bela graficamente falando, mas durou apenas 9 números em 8 volumes (o último foi duplo 8-9).
            Tarsila do Amaral não participou da Semana, nem com obras - estava em Paris, onde bebia de muitas fontes, naquela que era, então, a capital cultural do mundo, mas absorvia tenazmente o repertório cubista, que lhe serviria (juntamente com Oswald de Andrade), a partir de 1924, para proceder a uma peculiar leitura do Brasil. Uma das façanhas dos Modernistas de São Paulo foi a retomada da herança colonial - entenda-se: do Barroco - a partir de viagem de 1924, que ficou famosa.
            A Semana de Arte Moderna de 1922 fica como marco fundamental de nosso Modernismo: encontro das Artes/Linguagens, certeza de que as mudanças haviam chegado para continuar. Também, ajudou a colocar a cidade de São Paulo como grande centro irradiador de cultura no Brasil. OMAR KHOURI

 



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