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PORNOGRAFIA OU EROTISMO?
EROS NO PROSTÍBULO DA LINGUAGEM

 

Fazem-me rir as coisas que andam dizendo sobre as diferenças existentes entre pornografia e erotismo. Às vezes, para camuflar a vulgaridade do feito, falam em ensaio fotográfico para tal revista especializada em nus, ou de como o fotógrafo fulano de tal é um artista. Esse limite meramente temático de se é ou não é pornografia (que tem a ver com prostituição - do grego pórne= prostituta), se é ou não é erótico (erotikós, relacionado a éros, o amor em grego) não responde à questão principal. A coisa, como se nos apresenta,é ou não é criativa? É ou não é forte enquanto linguagem? Isto é o que interessa. O que dizer do sexo explícito nas gravuras japonesas? O que dizer dos remanescentes das produções com esse tema, da antiga civilização romana? O que dizer de certos poemas de Bocage? Estranho mesmo é acreditar no escândalo que causaram em Paris, na segunda metade do século XIX, telas como "Almoço sobre a relva" e "Olímpia", ambas do grande Edouard Manet! Países com tanta tradição em pornografia como Suécia, Dinamarca, Alemanha, Holanda, espantam-se com o que aparece em nossa TV comercial ou com o que se vê no carnaval carioca. Tudo é relativo? Sim, tudo é relativo e depende de tempo e espaço, hora e lugar. Pode até haver diferenças sutis entre o erótico e o pornográfico, mas não é isto o que interessa. No centro das cogitações deverá estar a questão do trabalhar a linguagem: fazer com que ela responda a uma necessidade estética de que todos nós temos. Marcial, poeta latino do século I dC, autor de epigramas sensacionais, principalmente os que trazem tema lascivo de par com a maledicência. Um poeta terrível, chegou a compor a seguinte peça (se me lembro bem, em tradução de Augusto de Campos): Dizes - ó Fidentino - tão mal os meus versos, que até parecem os teus! Mas o que aqui interessa é um epigrama ao mesmo tempo erótico e maledicente, mas com um teor lírico apreciável: grande carga de poeticidade. Seguem: o original em latim e a recriação para o português - trabalho de Luiz Antônio de Figueiredo e Ênio Aloísio Fonda - que resultou numa belíssima peça que só vem a honrar a língua de Camões:

Narrat te rumor, Chione, numquam esse fututam
atque nihil cunno purius esse tuo.
Tecta tamen non hac, qua debes, parte lavaris:
si pudor est, transfer subligar in faciem.
 
 
Corre o rumor, Quione: nunca foste fodida,
e nada mais puro existe que tua cona.
Nessa parte (por vestes velada) nem te lavas.
Se é pudor, desnuda a cona e vela a face.

E que viva a Arte: da Poesia ao Vídeo, passando pela Pintura. Que vivam os trabalhos altamente elaborados e que nos possibilitam uma experiência única, a qual não tem preço. Que exista todo o grande trabalho em que a linguagem, ela mesma, se destaque pela sua complexidade, independentemente do tema que venha a utilizar. OMAR KHOURI

 



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