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ANITA MALFATTI: PINTORA

            Foi a partir de uma sua exposição na capital paulista (dez 1917 - jan 18) que se desencadeou a onda de renovação das linguagens no Brasil, como algo programático mesmo, ou seja, instaurou-se o Movimento Modernista. Era, então, Anita, a mais cosmopolita das cabeças paulistanas e o seu trabalho demonstrava isto.
            Em verdade - diferentemente dos que apresentam uma transição como que natural - a Arte Moderna chega ao Brasil, aos tapas, chutes, pauladas e pontapés, não com as exposições de Lasar Segall, de 1913 (que certamente não mostrou o que havia produzido de mais radical na Europa, dentro do repertório expressionista) mas com a já mencionada de Anita Malfatti. Esta causou espanto e, se  por um lado trouxe problemas insanáveis à artista, por outro, serviu para despertar alguns jovens quanto à necessidade de renovar as artes no Brasil: Artes Plásticas, Poesia, Música.
            Naquela exposição realizada em São Paulo e que dera ensejo ao famoso artigo de Monteiro Lobato, desqualificando a Arte Moderna e a pintora, Anita Malfatti havia apresentado algumas das pinturas mais fortes de quantas foram realizadas por artista brasileiro e todas de sua "fase americana" (ela passara parte dos anos de 1915 e 1916 nos Estados Unidos, estudando pintura e desenho. Antes, estivera por quatro anos na Alemanha).
            Sintomaticamente, a exposição Malfatti se realizou em São Paulo, assim como foi a paulicéia o grande centro irradiador do Modernismo no Brasil. Singularíssima presença nas Artes Plásticas do Brasil, Anita Malfatti (São Paulo 1889-1964) contribuiu para a renovação das Artes no País, trazendo um repertório fundamentalmente expressionista, com obras produzidas principalmente fora (algumas poucas aqui), durante cerca de dois anos e meio, época, ainda, de formação/aprendizagem. Sua grande contribuição para nossas artes se resume a trinta e poucos trabalhos. Trabalhos da melhor qualidade. A Boba, pintura a mais radical de quantas fez e que não foi expoxta em 1917 (sequer na mostra de 22, em que Anita é, ainda a grande estrela da pintura), dá uma medida de sua grandeza, assim como Homem Amarelo, A estudante, O farol etc.
            Há mais que um juízo sobre o papel da crítica de Lobato a Anita, porém, prevalece aquela que garante ter sido Lobato quem selou a sorte de Anita que, malgrado seu cosmopolistismo era, por muitos motivos, suscetível e foi profundamente afetada pelas palavras do escritor. Sua produção plástica subsequente é toda ela sofrível. Passou até por um "processo de reeducação artística", tendo passado anos na França, na década de 20, com bolsa do governo do Estado de São Paulo. Anita lamentavelmente se provincianizou. Pintou até à morte e tudo indica que a solteira Anita morreu intacta e intangida.
            Anita vale pelo seu papel pioneiro e pela excepcional qualidade de cerca de uns trinta trabalhos, os quais podem ser encontrados em museus e coleções particulares. Anita preparou o caminho para a glória de outros: Tarsila do Amaral, por exemplo. Anita Malfatti: a ela coube o importante papel de alertar futuros produtores de linguagem de que além das academias e dos parnasos havia um mundo outro, pleno de belezas novas. OMAR KHOURI

 


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