DE OLHO NA POESIA
Omar Khouri - 1997
É consagrada e persistente a idéia de POESIA como a ARTE DA PALAVRA, por excelência, o que não deixa de corresponder à verdade, a uma parte da verdade, digamos. De fato mesmo, a poesia sempre esteve envolvida com outros códigos/outras artes, em alianças mais ou menos explícitas. Com a eclosão dos modernismos e seus desdobramentos, a poesia se assume como arte intersemiótica, invadindo outros campos, casando-se com outros universos, rompendo com quaisquer delimitações, o que, de resto, aconteceu com as outras áreas da criação artística. POESIA E VISUALIDADE: embora a questão não seja nada nova e muita água já tenha rolado desde fins do século passado, provoca discussões acirradas e a reprovação por parte daqueles que, verbalistas conservadores (fazedores de versos, livres ou não) pensam ser seu o território e se julgam no direito de reservar para si o rótulo POETA. (Quem estaria interessado na disputa?) Discussões infrutíferas à parte, fazedores (poetas) operam, tomando os códigos da visualidade (onde se inclui a escrita) como elementos constitutivos estruturais da fatura (poema). Daí, que a denominação POESIA VISUAL seja insuficiente, porque essa poesia é mais, nem sequer exclui sonoridades! Melhor seria chamá-la POESIA INTERSEMIÓTICA INTER/MULTIMÍDIA DA ERA PÓS-VERSO, pois utiliza vários códigos e meios e já é concebida para ser veiculada do papel ao CD ROM, passando pelo vídeo. Essa é a poesia que nos últimos vinte e cinco anos vem provando que a experimentação é companheira inseparável do exercício artístico. Retomando a questão POESIA: é poesia toda forma de organização sígnica com certo grau de complexidade que, visando a um fim estético, traz consigo uma carga conceitual, própria do mundo das palavras. É poesia tudo aquilo que o poeta quer que o seja; pelo simples fato de ele ser poeta, suas faturas serão poemas. Voltando à questão POESIA/OLHO: há três formas principais de visualidade na poesia: 1. Aquela evocada pelas palavras (a projeção de uma imagem na retina da mente - "fanopéia", Pound). 2. A emprestada ao poema, necessariamente, pelo registro da escrita. 3. A visualidade que entra como um propósito do fazedor, que explora os recursos da escrita, do desenho, da cor etc. Ela comparece tanto nos poemas figurativos como nas verdadeiras fusões de códigos. E a poesia que aqui se situa não teme as mais avançadas tecnologias; transita pelos vários meios; poesia aberta às possibilidades-mil do hoje. POESIA INTERSEMIÓTICA MULTI/INTERMÍDIA: a POESIA DA ERA PÓS-VERSO.